Apesar de não figurar no famoso hall dos Gurus da Qualidade, Henri Fayol causou profundas mudanças na forma como enxergamos a administração de empresas. E isso, obviamente, inclui a Gestão da Qualidade. Fayol é tão influente que, até hoje, é considerado um dos pais da gestão moderna. Não à toa, sua escola de administração é quase currículo obrigatório da famosa Teoria Geral da Administração (TGA).

Um dos grandes diferenciais de Fayol está na forma como ele estudava e compreendia as empresas. Ele foi um dos primeiros autores a sistematizar o estudo da gestão como uma disciplina científica, voltada a fatos, dados e números.

Outro grande expoente dessa maneira de pensar a administração foi Frederick Taylor. Taylor estava preocupado com o nível operacional e em como o trabalho era executado. Assim, ele aperfeiçoou e estudou fatores como o lead time e o layout fabril. Entretanto, Henri Fayol olhava para o nível gerencial, pensando e estudando a Alta Direção e como as organizações eram verdadeiramente administradas.

Dessa forma, o enfoque de Fayol rendeu-lhe contribuições inestimáveis e que, até hoje, influenciam nossas organizações. Apesar de não o estudarmos na Qualidade, os conceitos que aplicamos hoje têm raízes em sua escola de administração. Por isso, hoje, vamos conhecer este grande nome e entender como ele nos influencia. Bora lá?

Breve biografia de Henri Fayol

Henri Fayol nasceu em Istambul, na Turquia! Entretanto, estudou engenharia de minas na França e lá viveu a maior parte de sua vida. Por isso, muitos autores se referem a ele como “um engenheiro francês”.

A maioria das biografias indica que ele trabalhou sua vida quase toda na empresa Compagnie de Commentry-Fourchambault-Decazeville. Aos 47 anos, Fayol foi promovido, assumindo, então, a direção da mineradora de carvão e aço. Entretanto, o cenário à época não era bom, uma vez que a empresa estava à beira da falência. Assim, ele assumiu a empresa já com a difícil missão de livrá-la de um fechamento quase iminente.

Entretanto, o que muitos recusariam acabou se tornando uma bênção para Fayol. A experiência prática que ele adquiriu neste cargo, talvez, o tenha levado a observar que a eficácia e eficiência de uma empresa dependia tanto da boa gestão quanto da competência técnica. Assim, de nada adiantaria uma boa operação sem a força, inteligência e ponderação de uma boa “gerencia geral”.

Contribuições de Fayol para a administração moderna

Um único artigo não conseguiria resumir o que Fayol fez pela gestão de empresas!

Afinal, a própria forma de enxergar a administração de forma científica, por si só, mudou tudo! Sua abordagem Top-Down (“de cima para baixo”) deu força ao estudo das estratégias organizacionais e à importância de uma boa direção.

Além disso, seu foco nas funções administrativas e na estrutura organizacional também possibilitaram criar processos mais ágeis. Isso fez com que a administração apoiasse a produção, direcionando todos os esforços para objetivos estruturados e coerentes.

De qualquer forma, se precisássemos resumir as contribuições de Fayol, duas delas se destacam: ”As funções do administrador” e “Os 14 princípios da administração”. Vejamos!

As funções do administrador segundo Henri Fayol

Fayol foi pioneiro na divisão do processo administrativo. Ele atribuía 5 funções clássicas à direção, algo que muito se assemelha ao nosso querido PDCA. Segundo ele, as funções de um bom administrador, e da gestão como um todo, eram:

• Prever (ou planejar): o bom administrador precisa analisar o futuro, antecipar tendências e traçar bons planos de ação;
• Organizar: o gestor precisa organizar e alocar recursos, sejam humanos ou materiais, de forma a atender aos objetivos organizacionais;
• Comandar (ou liderar): o administrador deve orientar e motivar as pessoas, apoiando-as como pertinente e necessário;
• Coordenar: o bom administrador deve harmonizar atividades e esforços da empresa, garantindo unicidade e integração aos processos;
• Controlar: um bom gestor deve verificar se as ações estão em conformidade com o que foi planejado, assegurando não só a operação, mas o direcionamento como um todo.

Essas atribuições ficaram conhecidas como Funções Clássicas do Administrador. Entretanto, com o passar do tempo, elas evoluíram (ou foram reorganizadas), dando origem às conhecidas Funções Administrativas Modernas: planejar, organizar, dirigir e controlar. (basicamente, o Organizar e o Comandar se uniram 😅)

Os 14 princípios da administração segundo Henri Fayol

No geral, quando pensamos em “14 princípios”, o que nos vem à cabeça é William Edwards Deming e os “14 Princípios da Qualidade”. Entretanto, Fayol propôs seus 14 princípios universais de gestão muito antes, influenciando a gestão moderna como um todo. Vejamos cada um deles:

• Divisão do trabalho: divisão do trabalho em partes menores e atribuição de cada parte a um colaborador especializado; 
• Autoridade e responsabilidade: é necessária autoridade proporcional à responsabilidade que atribuímos, bem como são necessários dispositivos contra o abuso de poder;
• Disciplina: é preciso ter um conjunto de regras de conduta e respeito à hierarquia, algo claramente difundido, conhecido e respeitado;
• Unidade de comando: um colaborador deve receber ordens de um único líder, gestor ou autoridade. Isso evita dualidade de comando e, assim, confusão na execução
• Unidade de direção: todas as forças e esforços devem ser coordenados em prol de um objetivo comum e estratégico.
• Subordinação do interesse individual ao interesse geral: os interesses da empresa devem prevalecer sobre os interesses pessoais, assim a empresa precisa contratar apenas colaboradores totalmente comprometidos com a organização; 
• Remuneração: as remunerações e recompensas devem ser justas e adequadas ao trabalho, mantendo a satisfação e motivação dos colaboradores;
• Centralização: a concentração da autoridade decisória deve se manter nos níveis mais altos da hierarquia. Assim, é preciso garantir que o fluxo de informações chegue à Alta Direção;
• Hierarquia: deve existir uma linha de autoridade clara (da alta gerência ao último nível) e que garanta a comunicação verticalizada (“de baixo para cima”); 
• Ordem: similar ao conceito do 5S, este princípio determina que deve haver um lugar para cada coisa, e que cada coisa esteja em seu lugar. Aqui, porém, isso se aplica tanto a materiais quanto a pessoas;
• Equidade: devemos tratados todos com justiça e bondade, promovendo a lealdade e satisfação do trabalhador;
• Estabilidade do pessoal: devemos evitar ao máximo a rotatividade de pessoas, uma vez que leva tempo (e recursos) para um profissional se tornar eficiente; 
• Iniciativa: deve-se estimular liberdade e proatividade para criar e executar um plano, permitindo o desenvolvimento de novas ideias e a resolução de problemas. Entretanto, sempre respeitando a cadeia de comando (hierarquia);
• Espírito de equipe: devemos promover o trabalho em equipe para garantir a coesão e a harmonia dentro da organização.

Impactos da Escola Clássica na Gestão da Qualidade

Henri Fayol é um dos principais autores da chamada Escola Clássica da Administração (conjunto de teorias focadas na eficiência organizacional por meio da estrutura e da lógica). Seus ensinamentos atravessaram eras e, até hoje, influenciam a gestão moderna.

Muito do que grandes nomes da Qualidade pregaram, como William Edwards Deming, começou a tomar forma com Fayol. Assim, é possível, inclusive, encontrar similaridades nos 14 princípios de ambos os autores, seja pregando a valorização e respeito às pessoas, estabelecendo clareza de objetivos e propósito organizacional ou focando no planejamento e visão de longo prazo.

Dessa forma, muito do que conhecemos e fazemos está direta ou indiretamente ancorado em Fayol. A própria visão sistêmica, algo essencial para o sucesso das empresas, surgiu pelos pensamentos e observações do engenheiro francês. Assim, mais do que nunca, precisamos compreender que conhecer a história é uma forma de moldarmos o futuro. E que bom que temos tantos grandes nomes que nos ajudam a prever o amanhã, organizar o hoje e liderar o futuro!